quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

A quem possa interessar: A palavra do povo.


Gente bonita e querida,

Hoje, partilho com vocês mais uma das muitas coisas que me fazem sentir o coração no lugar certo.

Ontem, tive acesso à esta carta. Escrita por um, em nome de dois. De um casal, mais precisamente.

Não trata de política, não trata de economia...não é chata de ler. É longa, mas é por mim destinada aqueles que se emocionam e se encantam com "o outro". Que gostam de ver além, e que não fecham os olhos para o espaço humano que muitos ocupam nesta sociedade. Estas duas pessoas, autoras destas palavras, não são as únicas donas deste sentimento. E é por esta razão, por haver muita gente boa a passar por coisa parecida, que deixo aqui publicada cada linha deste texto que encontrei no Facebook.

São mais duas pessoas que partem daqui, deixando uma casa, em busca de um lar. Uma duplinha "gente boa", que eu tenho o prazer de conhecer. Mas mesmo que assim não fosse, as suas palavras me tocariam da mesma forma, e com a mesma verdade que permite uma identificação absoluta.

Ao ler esta carta, me dei conta de que não é leitura que se guarde para si. Não dá. Por isso, sem me fazer de leitora egoísta, vos entrego as palavras e os múltiplos sentimentos deste casal. Têm tão de portugueses, que vão desbravar novos mares e horizontes, atrás do que realmente (lhes/nos) interessa.

Aqui, fica o meu desejo de que tenham imensa sorte nesta empreitada...e que sejam muito felizes, agora na condição de cidadãos do mundo.

Um beijinho meu para eles, em especial.




"Não dá mais!


Muitas vezes me ouviram dizer que fome, nunca passaria. Se um dia estivesse prestes a chegar a esse ponto, agarrava nos últimos trocos que me restavam, comprava um fusco e fazia-me à vida. Provavelmente era a raiva a falar. A raiva de me esforçar tanto para chegar a lado nenhum. A raiva de tanto trabalhar para não ver frutos. E a vontade de fazer algo que, nem que local e pontualmente, equilibrasse um pouco mais este fosso entre classes, que no nosso país é cada vez maior. Por isso é que se um dia isso viesse mesmo a acontecer, teria que apontar a mira dos meus golpes sempre a quem mais tivesse. Citando Valete: «...fosses menos al-Capone e mais Robin dos bosques. Devias raptar os filhos dos patrões dos teus pais e trocar pelo guito do suor que eles levaram a mais...» - radical, eu sei, é uma das minhas qualidades.



Felizmente temos grandes e verdadeiros amigos. Amigos que nem nos deixaram passar fome, nem nos deixaram comprar o fugante. Em alternativa, tal como eu disse há uns meses atrás, compramos uma pá. Cavamos, cavamos, cavamos e continuamos a cavar. Na altura disse que iríamos até onde os calos nos deixassem... o objectivo era cavar de tal maneira, que chegaríamos ao outro lado do mundo! Talvez tenhamos subestimado a dureza da crosta terrestre, chegamos à conclusão que, para lá chegar, teria que ser feito um desvio. Fá-lo-emos! E antes de cavar até à Austrália, teremos que passar primeiro por Inglaterra.

Família, amigos chegados, amigos distantes, meros conhecidos, companheiros de luta de rua, companheiros de luta virtual... desistimos!
Não dá mesmo mais para ficar aqui, a ver estes energúmenos a destruir a nossa vida, a acabar com os nossos sonhos, a barrar os nossos objectivos, a espezinhar o nosso esforço, a desprezar as nossas angustias, a dar indicações sobre trabalho e dedicação quando no fundo nunca trabalharam na vida, e nem sabem ao certo o significado de tal palavra. Não dá mais!
Quem nos conhece a sério sabe o quanto batalhamos até ao último momento, até à última alternativa, até esgotadas todas as hipóteses para nos mantermos à tona da água. E, apesar de tudo o que nos tem acontecido, particularmente nos últimos 2 anos, até nos temos mantido, mas aos 30 anos os braços começaram a pesar, as caimbras a prender os músculos, e começamos a olhar à volta, à procura de qualquer coisa onde nos pudéssemos segurar. Tentamos, por inúmeras vezes, apoiar-nos no que tínhamos mais perto, mas sempre que estávamos prestes a conseguir, lá vinha um polvo, ou qualquer outro tipo de monstro marinho, que nos agarrava as pernas e nos puxava para o fundo. Quando não era algo que nos sugava para baixo, era esse apoio, que ao longe parecia uma rocha enorme e firme, mas acabava por se revelar uma folha de papel... A5, ou A4, na melhor das hipóteses... chegámos à conclusão que se não usarmos rapidamente as forças que nos restam para nos afastarmos daquilo que temos mais à mão, destas águas que nos tentam afogar, destas falsas ilhas que nos consomem a esperança (essas cadelas, que não conhecem o dono!), poderá vir a ser tarde de mais. E mesmo que não seja! Não queremos continuar a engolir pirolitos o resto da vida, não eram esses os nossos planos há 10 anos atrás, quando nos encontramos no meio deste oceano e decidimos que nadaríamos lado a lado. Por isso vamos embora. Não dá mais!

Não vamos embora para ganhar dinheiro. Não vamos embora para ter trabalho. Não vamos embora para fazer um pé de meia para a nossa reforma (ou para a garantir, simplesmente...). Vamos embora, ponto. De Portugal restará apenas a saudade de alguns, e felizmente são muitos, e a mágoa por não termos conseguido lugar na terra que nos viu nascer.
Deixou de ser alternativa. O bilhete é literalmente apenas de ida! Mesmo que a nossa 'Operação Canguru' venha a ser um fiasco, depois de partirmos dificilmente veremos o regresso ao nosso país como solução para essa gafe. Deixamos de ser prisioneiros dentro de linhas imaginárias a que chamamos fronteiras, e passamos a relativizar este orgulho, que continua obviamente a existir, de termos nascido neste pequeno, embora delicioso, rectângulo, que tinha tudo para não deixar fugir os seus filhos.
Estragaram-no de forma, provavelmente, irreparável. E deixamos sucessivamente, ao longo de vários anos, a sua reparação a cargo de várias equipas de manutenção absolutamente incompetentes e incapazes. Se ainda tem restauro possível, não será, de certo, desta(s) forma(s) que vamos voltar pôr a máquina a andar. E quem me conhece sabe que nunca, mas mesmo nunca, tive feitio para seguir um caminho com o qual não concordo, apenas porque é suposto resignar-me a quem o indicou. Os meus pais são as melhores testemunhas da antiguidade desse meu feitio. Tento, até à última, e normalmente de forma clara e efusiva, mostrar qual é o caminho que eu pretendo seguir, e no fim, se tiver que ir sozinho, vou. Se me enganar, ou se me perder, a culpa é toda minha, não gosto de me ver na situação de desculpar os meus fracassos com decisões que não me pertencem.
Pior! Não suporto viver com esta ideia de pagar por algo para o qual não contribui, por mais que me tentem convencer que sim, que também tenho culpa sabe-se lá bem do quê. E isto já nem é ideologia política, não é! É pessoal, é muito meu, não pago, não pago, não pago! Não é treta... EU NÃO TRABALHO DE BORLA! Para ninguém, principalmente sendo obrigado a isso. Se o fizer é porque quero, não porque esses 'pinguins de fatinho' (e está entre aspas porque a expressão não é minha, não por respeito), acham que devem dividir por todos, os sacrifícios que eles acham que são necessários, para pagar aquilo que eles acham que devemos, da forma que eles acham que deve ser feito, apenas porque se acham nesse divino direito... eu estou-me completamente a cagar para aquilo que vocês acham, ou deixam de achar!!
Desçam cá abaixo e vejam na merda em que estamos metidos. Sejam homens e sintam o real significado da palavra mínimo em Portugal, quando conjugado com a palavra ordenado – isto, quando ele é respeitado, que já nem isso é garantido. Eu não quero que nos digam todos os dias que isto está mau, eu quero é que também esteja mau para vocês! Eu não quero que nos venham dizer que compreendem os lamentos dos desempregados, eu quero é ver-vos a vocês desempregados, a lamentarem-se e a pedir compreensão! Não quero que se vangloriem por distribuir sobras, quero é ver-vos a correr atrás delas! Não vos quero ver a encolher os ombros quando falam dos que não conseguem pagar a luz, ou a água, ou o gás, ou o colégio dos filhos, ou tudo junto, eu quero é ver-vos de cabeça baixa ao terceiro dia de cada mês, porque a pseudo felicidade dura apenas dois! E não é uma temporada, só para experimentarem, é a vida toda, para depois saberem o que é viver com reformas ridículas, quando já não têm saúde nem vigor para lutar pelos direitos conquistados numa vida, de cada vez que estes são atacados pelas costas. Para além de tudo são covardes – metam-se com alguém do vosso tamanho! E talvez aí vos confira o respeito necessário para ouvir a vossa opinião acerca do caminho a seguir... quando sentirem na pele a realidade da vida daqueles a quem vocês exigem sacrifícios. Aliás, roubam!, fria e deliberadamente, sacrifícios. Às claras, em plena luz do dia, bem debaixo dos nossos narizes. Lamento, mas não consigo mais assistir a este saque, impávido e sereno, e continuar a viver aqui, como de uma inevitabilidade se tratasse. Desculpem-me, mas não dá mesmo mais.

Queremos ir para a Austrália para podermos viver. Para podermos respirar. Para podermos aspirar a ser felizes como já fomos... e fomos mesmo! Não vamos para sermos emigrantes, nós vamos é à procura duma alternativa à nossa nacionalidade. Ser português não pode ser uma fatalidade à qual devemos sucumbir aconteça o que acontecer, estejamos nós conforme estivermos. Ser europeu não pode ser uma sina que nos subjuga à vontade de agiotas e especuladores que lá ao longe, do seu feudo, comandam e dizem como devemos viver. Isso sim, fere o orgulho que temos na nossa pátria.
Por isso mesmo, e por várias outras razões pessoais, queremos ir para o outro lado do mundo. Seria difícil escolher um país ainda mais longe do nosso. Queremos começar tudo de novo, bem longe daqui, sem correr o risco de cair na tentação de voltar, por dá cá aquela palha. E se nos for possível, se tudo nos correr pelo melhor, por lá ficar a tempo indeterminado. Lamentamos, mas não dá mais!

A todos os nossos amigos resta-nos agradecer. Mesmo. Duma forma que nenhum de vós conseguirá verdadeiramente entender, porque nós também não o conseguiremos expressar. Por tudo o que passamos juntos, por todos os momentos que fizeram de nós o que somos hoje, por tudo o que fizeram quando nós mais precisamos, por terem estado lá, de foco na mão, quando nos sentimos mais à deriva e mais sozinhos. Não vamos particularizar, isso fá-lo-emos pessoalmente, mas a todos aqueles que duma forma ou de outra têm acompanhado a nossa vida, quer antes, quer depois de nos termos unido, o nosso muito, mas mesmo muito obrigado por tudo!
Lembrem-se sempre que não há longe nem distância...! E quando voltarmos às escavações, a partir de Inglaterra até à Austrália, prometemos deixar o buraco aberto, atrás de nós. Se um dia o quiserem aproveitar avisem, que nós estaremos à vossa espera, do outro lado do mundo, de braços bem abertos para vos receber. Deste lado não precisam de esperar pois não sabemos se voltamos. Asseguramo-vos que é muito pouco provável...

Um forte e sincero abraço a cada um de vós!

Do fundo do coração (e apenas dum, pois partilhamos o mesmo...): D e P."


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