sexta-feira, 10 de maio de 2013

E de mim...falo agora.

Eu vivo no Porto. E do Porto eu não sou. Ao menos no papel. E já a rectificar...do Porto não sou? Será? O que nos faz ser de uma terra? Serão meras burocracias, meros acontecimentos...ou será aquilo que carregamos na alma? Para mim, é difícil dizer. Se sou dali, se sou de lá... 

Desde que vim de férias a Portugal, e enfrentei o deslumbre da Ribeira, com as suas pontes e luzes...desde aí, eu soube: algo meu está aqui. Mal sabia, na minha pouca idade, que um dia viria a viver cá,  e que esta seria mais do que uma cidade. Seria a minha terra. 

Um dia destes, disse em família que não sabia dizer por qual terra tenho mais amor: se pela minha cidade natal, Recife, ou se pelo Porto. Sem dúvida, mesmo nenhuma, digo que as duas cidades ocupam lugares iguais no meu sentir. O espaço em que nasci e me criei, e de onde trago muito de mim...quase todo o meu orgulho! Ou o lugar em que escolhi viver, acima de tudo, e sem explicação alguma, pelo qual me apaixonei. Não pelas pessoas, pelas paisagens, pelas memórias. Mas, por tudo. E o Porto me faz renovar uma paixão extrema... a cada vez que paro para ver as suas ruas, as suas casas, as suas luzes. A cada vez que o vejo, renovo o meu amar.

Tenho a certeza de que muito disto se deve aos bons momentos que tive, a viver ali, em plena Boavista, com um terraço gigante...e com amigos que preenchiam cada espaço. Cada minuto que vive aqui, foi cheio. Muito cheio de amor. E só isto poderia me salvar das saudades. Saudade acima de tudo, do meu pai. Minha âncora, meu pouso. Meu tudo. Meu amor. Nem tenho palavras para o descrever. Tudo o que me ensinou, tudo o que me mostrou. A forma como me deu apoio quando resolvi vir estudar cá, e mal ele sabia que a vida me guardava uma plano aqui. Lembro que me presenteou com um livro. "Cem anos de solidão". E escreveu na dedicatória: "Que não sejam mais de quatro anos de solidão". Chorei compulsivamente quando li, e levei comigo este choro para o avião. Algures em mim, eu sabia que seria para sempre. Eu não podia, naquele momento, prometer "em anos" a minha ausência.

Enquanto escrevo, choro. É choro de saudade, de falta. É choro sem fim. Que dura meses, anos...e do qual, se calhar, nunca me vou livrar (e até fiz uma pausa na escrita, para deixar correr as lágrimas, limpar, e continuar. Como sempre.). Tudo o que me lava a alma, não é à tôa e sem sentido. Mas gosto de pensar que é assim porque preciso limpar tudo. Tudo, tudinho. Vez ou outra...é necessário.

A minha mãe está cá. E tão presente que é! Nunca se irá embora sem mim...e eu nunca irei embora sem ela. Alguém já disse que combinamos o nosso destino em outra vida, as duas juntas, sempre. Sou pouco sem ela, e ela é pouco sem mim. Há relações que suportam a falta, e há outras que fazem as pessoas definharem. E a Matilde, acima de tudo, veio para afirmar isto. A menina que nos renova. Que nos faz pensar no destino...naquilo que está traçado, e naquilo que escolhemos. A menina sem a qual a avó não quer viver.

É tão difícil ser de tantos lugares...é difícil planear um destino, tendo em conta tudo o que nos é valioso. Quando resolvemos viver fora, e isto se entranha em nós, nunca mais vamos ser os mesmos. Vamos ser sempre de lugar nenhum. Estrangeiros daqui e de lá. É tão mais fácil quando vamos a passeio, para aprender línguas, criar histórias de juventude. É tão mais fácil quando é assim...

Quando uma pessoa se apaixona por um lugar...é muito mais complicado. Quando uma pessoa tem uma casa, uma vida. Quando se sente parte disto. Quando já nem pensa que não o é (de verdade). Quando se entristece com a saudade que aparece. Ai...é difícil. É dorido. 

Mas a gente tenta...vai vivendo com isto. Supera e levanta a cabeça. Claro...até à próxima vontade de lá estar...do outro lado do oceano. Até aonde a gente aguenta, a gente tenta. Até aonde a gente pode. E se não pode...sofre, chora...limpa tudo...e segue. Continua a seguir.

Hoje é um dia assim. E quem dera que fosse o único.

3 comentários:

  1. Somos sempre estrangeiros, já diziam os existencialisas franceses.. Independente a terra que nos viu nascer e crescer, somos estranhos no mundo e temos de nos apaziguar com este destino tão humano. Quando escolhemos viver longe do nosso território, este sentimento é ampliado. Somo estrangeiros! Depois, quando gostamos do lugar que escolhemos para viver e nos apaixonamos por ele, como é o caso da cidade do Porto, embriagante, então é mais difícil ainda. Mas somos de toda parte, a nossa pátria nos pertence! Tens razão, uma ve estrangeiro, estrangeiro para sempre! Mas por outro lado, ser estrageiro nos concede outros olhares e por isso ns alteramos. Não chores! Ser estrangeiro, por vezes é como ser poeta. De facto, o Porto é uma cidade especial e que nos abraça de tal forma que mesmo a quere partir, ficamos. Vivemos o que já conhecemos, o que já existiu e nos foi informado e o que está por vir... é o Porto! Talvez seja a carga simbólica que tão bem significa u porto. Lugar de chegada, repouso e repouso. Mas Recife também é um porto, mas neste porto eu só aporto com as minhas meninas. O sentido das nossas existêncas são muitos, tantos!!! Mas alguns são imprescindíveis e sem eles não temos vigor, formosura e beleza. Gosto da minha paisagem, algumas na memória de infância... do meu mar azul decorado de domingos em família, do marco zero, dos poetas amigos, da música, da culinária, do café literário e sobretudo da minha família... também gosto do Porto, onde os sonhos aportaram e a Ribeira foi um mergulho. No Porto ou no Recife, as histórias que nos une serão o nosso mundo, a nossa terra, o nosso solo e tudo o que precisamos para ter vigor e beleza. A paisagem, pouco importa, quando o que nos faz ir ou ficar é o amor que nos une para sempre. Sim, as minhas meninas-pérola são a minha pátria, a minha janela e os meus sentidos. Tenho orgulho nelas. Lua é uma mulher linda e sensível, especial, a minha menina princesa, a M é o amor renovado, a esperança e alegria de viver, Lali, a minha outra menina-pricesa, também linda, especial e a cescer... eu tenho três pátrias e preciso das tres para viver. Elas são a transcendência. Aqui ou lá... estaremos juntas, sempre!

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  2. A tua sensibilidade para a escrita é algo especial, muito especial... eu também chorei! Bjs.

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