Ando em falta com este cantinho. Tantas coisas por fazer, por tratar, e só para somar e tirar tempo, as viroses não dão tréguas por aqui. Semana sim, semana sim, há uma bicharada a trazer febre, nebulizações e muitas birras. Birra para o banho, birra para o leite, birra para a sopa, birra até para o croissant de chocolate que tanto gosta. Birra porque quer andar de vestidos, laços e sapatos em casa, porque quer festa todos os dias, porque quer escolher tudo o que veste (imaginem o resultado!lol), e birra porque quer o Barney a dar 24h na TV (sim, aquele dinossauro roxo que vive nos anos 80). Enfim...paciência é algo que tem de sobrar quando somos mães. Certo?! Por aqui, hora falta, hora recarrego o stock.
Entre a gestão de tempo que envolve uma criança de 2 anos, doentita e em casa, um novo negócio, um blog, duas páginas no Facebook e uma vida (sim, nem sei como ainda a tenho), ainda podemos acrescentar à lista uma série de burocracias que surgem com uma viagem. Há semanas que não falto às filas da loja do cidadão e do consulado brasileiro no Porto. Já entro e saio de lá como se estivesse em casa. "Bom dia, fulano". "Boa tarde, beltrana". Já me tratam pelo nome, e já sabem exactamente qual ficha me entregar. Posso dizer que já sou VIP por ali. Entre certidões de casamento, nascimento, quitação eleitoral, passaportes, autorização de vigem para menor, cartão de cidadão...nem consigo imaginar o que mais podiam lembrar de nos pedir.
Entre estas idas e vindas, há sempre aquele "chá de cadeira". Aquele tempo de espera a que ninguém escapa. Eu sou uma pessoa prática. Muito emocional, mas completamente equilibrada. Quando vim morar em Portugal, fui tão forte. Não é fácil deixar uma casa, uma vida, a família, os amigos...os lugares onde nos sentimos seguros têm tanta força sobre nós! A minha defesa foi a protecção. Protegi-me das saudades não pensando nelas...e a determinada altura, sinto que realmente esqueci de sentí-las. Quando estava ali, naquele consulado, junto ao coração do Porto, numa zona que me traz tantas recordações do período em que cheguei, fui de repente assaltada por muitas memórias. Primeiro, dos amigos que fiz quando cá cheguei, e que a vida nos afastou, levando por caminhos tão diferentes. Coincidência das coincidências, encontrei um deles, um muito querido, numa destas minhas saídas burocráticas. Combinamos, como sempre, um café.
Depois, fui tomada por uma invasão de borboletas. Estava ali, sentada e à espera, a distrair-me com a gestão do Little M e da Mini Maison (bendito seja o 3G), das contas por pagar, das encomendas por fazer...e bati os olhos na TV. Estava a passar imagens da minha cidade. O colorido, os sabores e os ritmos. Pela primeira vez em muito tempo, as saudades chegaram. Assim, sem aviso prévio, sem a possibilidade de controlo. Senti a barriga aquecer, e os olhos embargarem. Pela primeira vez, em um mês de burocracias, saí do automático e percebi: "vou voltar à casa. A Matilde vai conhecer o meu lugar. Vai ter mais de mim".
Nem consigo vos dizer o que esta "revelação" trouxe. Estou com a alma cheia. Ansiosa. Nervosa. Sedenta dos abraços que adiei, das caras que "escondi" das lembranças. Estou pronta para aquecer no meu Verão, que já havia esquecido, mas é meu. E eu sou toda dele. Ou quase, porque se metade de mim é Brasil, a outra metade é Portugal. E alguém melhor para comprovar isto do que a minha Matilde?! A luso-brasileira mais linda de sempre.
Brasil: eu "tou" chegando! NÓS, na verdade...porque desta vez, levo comigo mais uma filha dessa terra. Quero dar todos os abraços que guardei, sorrir tudo o que nos faltou, cantar alto, dançar muito...quero banho de mar morno, água de coco, festas na piscina de tantas memórias...quero o olhar da minha avó, o amor da minha tia "mãe de leite", o abraço do meu afilhado, a companhia alegre da prima-irmã...o aconchego do meu pai, a amizade do meu irmão, e a casa cheia pela família que já não vejo há tanto...quero rever as amizades de uma vida inteira, daquelas que parecem vir de sempre e para sempre, e que não há distâncias ou percursos que possam colocar fim. Quero o Natal quente! O saltar às 7 ondas do mar na última noite do ano. Quero tanto, e quero tudo.
Até já, meu canto!!!
(E a Portugal, a promessa de actualizações giras-giras, e um "até breve" cheinho de carinho! Eu vou, mas eu volto. <3 )
(Uma frase para a ida e para a volta. Porque agora eu sou mais rica. Tenho duas casas. Dois países. Duas famílias. Sou daqui e de lá, e por isso sou maior!)
Arrepiei a ler...bj
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