Nove dias. Nove dias se passaram desde que chegamos ao Brasil, e eu nem dei por eles. Tem sido surrealista voltar à minha cidade, perceber todas as diferenças, reparar em tudo o que permaneceu igual, intocado pelo tempo. Rever a minha infância, a minha adolescência. Os meus amigos, os conhecidos, os que nunca fizeram diferença na minha vida. Olhar ao redor e desconhecer todo o funcionamento da minha cidade-berço, ao mesmo tempo em que pequenas imagens, cheiros e sons, me transportam, quase que por obrigação, a tempos que escolhi guardar escondidos, numa caixinha qualquer dentro de mim. Coisas que ficaram latentes, na verdade. Sentimentos que eu pensava não existirem, e que de uma hora para a outra berram por mim. Aí vem o nó na garganta, o aperto no peito...e a saudade que deixei calma e profunda, vira tsunami na minha alma. Não tem sido fácil, não tem sido simples, e de facto, ainda não comecei a aproveitar o meu eterno espaço. Ainda estou como um bichinho do mato, me deparando com novidades. Ainda estou como a Matilde, que do alto dos seus dois anos, estranha o novo e pede colo. Mas ainda mais complexo é o reconhecer. É o sentir-me em casa...sim, porque às vezes acontece. Quando por segundos estou confortável numa meória, num espaço, numa lembrança, lembro por fim que isto já não é meu. Já não me pertence. Que mais dia, menos dia, vou embora. Abandonar tudo outra vez, actualizar despedidas, desencontros. Voltar à frieza da web, que, se consegue ser fantástica, ainda não descobriu como me levar o ninho até além-mar.
É como se eu quisesse entregar a minha alma à menina que aqui cresceu, mas tivesse medo do corte que está por vir. Porque ser estrangeiro, no fundo, é ser de lugar-nenhum. É ter pouso certo, mas nunca ter base plena. Completa. Se somos metade de lá, e metade de cá...no fundo, não temos terra. Só lembranças, saudades e ligações que iniciam e interrompem. E viver assim, de facto, não é para qualquer um. Eu bem sei das minhas fortalezas...mas descobri que a "menina" que fui, também tem fraquezas, e ainda mora em mim. E chora quando vê a avó. Chora quando vê o pipoqueiro de rua. Chora quando ouve a elegância da música brasileira, dentro daquele que foi o seu primeiro carro, e que ainda existe para si. Chora quando vê a cria, descendência da terra, descobrindo o seu primeiro canto, a sua cultura, as suas cores e raízes. Quando lhe ensina as palavras esquecidas, quando lhe mostra as comidas perdidas no tempo. Chora quando pensa que ganhou um mundo, e perdeu outro. Que perdeu anos e anos da companhia da família...e que a vida é breve em exagero. Que acabou por se afastar de si mesma...e nem deu conta.
Que lindo Lua!!! Me identifico em tudo que você escreveu... tudo mesmo!!! Sinto exatamente a mesma coisa sempre que volto aí... Aproveitem tudo e todos que depois será só saudade... Espero que a M. esteja aproveitando e curtindo tudo de bom que o "nosso" país tem pra oferecer... Beijão e boas férias, Nina.
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