Magicar sobre a vida é das coisas mais bonitas que podemos fazer a sós. Despertar para momentos, subtilidades, possibilidades e caminhos. Mas sobretudo, para saborear o breve instante do presente. Ali, dentro do silêncio e do escuro da noite, estive a ouvir o profundo respirar da minha criança. Tão pequenina, tão serena.
Aquelas mãos, que já tanto cresceram, e ainda se fazem minúsculas, pousadas sobre o calor das cobertas. Os olhos, transformados em pequenos rasgões de descanso. Os cabelos, delicados caracóis dourados, espalhados sobre a pequena almofada. Dentro dos sonhos, breves flashes que fazem surgir um olhar de meio segundo, transparescendo a íris cor de água. Nada pode ser tão confortável quanto estar ali, ao lado daquele pequeno corpo, aproveitando o calor daqueles pés, miniaturas dos meus, cobertos por umas galochas marinho de pintinhas brancas- Aquela engraçada peça de borracha, que transformou-se em melhor amiga, e que já nem é poupada na hora do sono.
Encosto a minha cabeça naqueles ombros pequeninos e aquecidos, enquanto rasgo um sorriso de imensa felicidade. Sei que o meu mundo inteiro está naquela mesma cama, e como por magia, consigo tocá-lo, cheirá-lo, senti-lo, amá-lo. É real como tudo o que é material, e enorme como pode ser um sonho, um delírio de mulher feliz. Inteira por instantes, esquecida do vazio do mundo lá fora.
Ali, nada falta, tudo sobra. Nada preocupa. Ali, não há governo e nem povo. Não há lei, castigo ou justiça. Não há Segurança Social, tampouco a página de empregos daquele jornal, que já nem em si acredita. Não há o choro daquela mãe, a ansiedade daquele pai, ou o mistério de um futuro. Não há Obamas, Trumps, Dilmas, Lulas e escândalos. Não há Zika, Carnaval ou Facebook. Não há Suíça, não há fugas. Não há saudade, não cabem ausências.
Ali, há amor e silêncio. Há tempo. Preciosidades que a vida, a conta-gotas, nos mostra.
Uma borboleta parece estar pousada sobre a esquina da cama. Parada, a estremecer as asas. A guardar o meu sonho. Se existe algum tipo de paz, este é o retrato dela.
(Afinal, o mundo pode ser um lugar tão pequenino...)
Uma borboleta parece estar pousada sobre a esquina da cama. Parada, a estremecer as asas. A guardar o meu sonho. Se existe algum tipo de paz, este é o retrato dela.
(Afinal, o mundo pode ser um lugar tão pequenino...)
Beijinhos, e uma linda Quinta-feira!
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Belo texto, minha filhota. Te amo. Bjo,
ResponderExcluirÔ, pai...obrigada! :)
ExcluirBeijos, te amo.
Fiquei sem palavras ao ler o texto. Um extâse que só a palavra-arte pode ter. Já disse em outros comentários que estou a espera de um livro que reúna muitos destes textos. Sinceramente, escreve com um poder que comove. Sabe como expressar os quase não-ditos, ou aquilo que em geral não se consegue dizer. É uma artista da palavra!
ResponderExcluirOh! Eu cá, tenho uns anónimos que são fantásticos! lol!!! :D
ExcluirSem brincadeiras...muito obrigada pelo carinho do comentário!
É muito gratificante ter este tipo de retorno.
Um beijinho grande.