Mãe é um bicho esquisito. Hora lambuza de beijos, dá colo e segreda amor ao pé do ouvido da cria...hora levanta poeira por onde passa. Faz queixas, reclama que se farta, perde o Jogo-de-cintura, erra no rebolado. Deixa a paciência escorrer pelos dedos e, sim, berra. Fala alto, faz ameaças, põe de castigo. Obriga a comer a sopa, proíbe a bola dentro de casa, e até chora pelo vaso partido...mas chora de raiva. Sim, o bicho-mãe também grita e faz birra. É quando vira gente de verdade, em carne-osso-e-garganta.
O bicho-mãe é crítico consigo mesmo. Exigente com o seu papel. É o mais alto nível de exigência. Cobra de si a qualquer hora do dia ou da noite, e quando tem uma crise de consciência, sente uma dor aguda no peito. Uma dor mesmo incómoda. É quando cobra de si mais coração, menos coração. Mais paciência, menos paciência. Mais limite. Mais tempo. Mais passeios. Cobra, cobra e cobra. E se num minuto consegue sentir-se uma Super-Mãe, no momento seguinte pode estar a desgastar os miolos por ter sido mais durona na sua tarefa.
A Matilde está nos "terrible two". Ou seja, ando mesmo a gastar juízo comigo mesma. Porque é o momento em que me descubro mãe num novo nível. O de educar, pôr limites, tentar aplicar alguma disciplina. Já não sou apenas a que oferece o peito com leite materno e quentinho, ou o prato de sopa- rica em tudo e mais alguma coisa. Já não sou aquela que fica feliz "apenas" porque a cria dormiu uma noite inteira, ou disse duas ou três palavras novas. Sim, também sou esta, mas agora sou mais. E cansa ser mais. Cansa quando ela salta e corre pela casa todo o dia, quando cai e chora, apesar de eu ter avisado e tentado amparar milhentas vezes. Cansa quando arrumo a sala e o quarto, e dois minutos depois, tenho tudo espalhado PROPOSITADAMENTE. Porque ela sabe que chateia, que irrita, porque me desafia e testa a cada tentativa minha de mostrar quem "manda". Então, a mamã Little M perde a compostura. Quem nunca?! E é logo aí, ao virar desta esquina com a descompostura, que surge a carinha amuada, o pedido de desculpas, os miminhos nas minhas costas, enquanto limpo o prato de sopa atirado ao chão. É mesmo aí que me desfaço em culpas, que me apetece chorar por ter dado duas ou três palavras em tom mais alto.
Sim, mãe também cansa, perde a paciência. Faz birra e dá gritos. Quer arrancar os cabelos. E é capaz de sentir profundo remorso. Profundo. Fica apegada aos seus erros e às suas culpas, e esquece que é maior e melhor do que um passo em falso. Porque os nossos mais-que-tudo têm olhos de gigantes quando se trata de ver quem somos, em essência, para eles. E é isto que nos salva: o olhar puro de quem criamos. É quando nos vemos crescer...ficar Super! Autênticas heroínas. Eu vejo este olhar da Matilde para mim tantas e tantas vezes. Vejo-a querer ser eu. Vejo admiração por mim, por quem sou para ela. Porque no fundo, sou uma mãe-melhor-amiga. Sou toda eu vontade de amar mais e mais a minha bebé-grande. A minha gorda. Sou toda eu movida a impulsos de beijar e apertar, apostar corridinhas até à cozinha, cantar alto num dueto de chuveiro. Sou inteira defeitos e descomposturas, mas sempre com muito, muito, amor à mistura.
Este vídeo anda a circular pela net, e está o máximo. Lembrei de mim, e aposto que muitas vão se ver nele. Preparem um lencinho, pois por aqui as lágrimas chegaram em visita. ;)
Beijinhos, Super-Mamãs!!!
Adorei o post...é tudo como descreve, mas a paciência é a maior das virtudes, por mais que ás vezes nos falte eles filhos fazem com que ela volte rapidinho eheheheh.São os nossos mais que tudo e por quem nos apaixonamos dia a dia mesmo com as birras :)
ResponderExcluirImpressionante como me identifiquei (mais uma vez) com o post que você escreveu!!! Adoro ler e descobrir que também sou normal e que as coisas não acontecem apenas comigo... ADOREI!!! Beijo grande, Nina.
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